Distopia literaria - Submissão

Olá eu sou Jhulia de Souza Silva e vou falar sobre a obra  submissão que foi escrita pelo autor Michel Houellebec em 2015 e pertence ao gênero literário distopia literária

A princípio, é extremamente difícil falar de Michel Houellebecq. Até porquê ele não ajuda muito. O escritor é uma polêmica ambulante. Apesar de ter ótimos livros, gosta de falar muita besteira, inclusive, dá entrevistas onde faz questão de ser escatologicamente desagradável. Ele criou há muito tempo uma persona que encarna até hoje, um pouco do estereótipo blasé francês de quem não tem muita esperança e não está ligando muito pra nada, então fala com desprezo enquanto fuma um cigarro de maneira descompromissada. Logo, qualquer um que tenha o mínimo de noção começa um texto sobre ele, ou suas obras, esclarecendo que não necessariamente concorda com suas declarações ou com suas personagens. Aliás, é exatamente isso que estou tentando fazer agora.

SubmissãoSubmissão é um romance que mesmo antes de ser lançado causava enorme desconforto. Quando foi lançado foi ainda pior, pois foi no mesmo dia do atentado à sede do semanário Charlie Hebdo. Inclusive, Michel Houellebecq estava na capa do jornal nesse dia. Como se não bastasse, um grande amigo seu morreu no atentado. Foi o economista e marxista Bernard Maris. O atentado foi um choque para toda França e também para o escritor. Ele perdeu um grande amigo e considera o ocorrido o maior ataque à liberdade de expressão da história do país. Agora em 2020, o jornal publicou novamente charges do profeta Maomé. Declarou que não se dobrará à ameaças e manteve seu posicionamento polêmico.

As sinopses normalmente descrevem Submissão como uma “distopia” em um futuro próximo (2022) onde a França, e depois a Europa, passa a ser governada por uma frente política islâmica. Assim, o narrador vivencia essa mudança social e política. Não é bem a minha interpretação do romance, penso que esse seja um plano de fundo para outras questões, e é isso que vou tentar discorrer agora.Professor Doutor François
Bom, logo de início temos a apresentação em primeira pessoa do narrador e protagonista, François, um professor universitário. Desde os primeiros parágrafos ele vai falando de praticamente toda sua carreira acadêmica. Desde a faculdade até sua posição de professor Doutor na Sorbonne. Entrelaçado ao seu caminho acadêmico François descreve suas relações pessoais, sexuais, sua personalidade e mediocridade. Ele não esconde nem um pouco que é egoísta, egocêntrico, machista, preconceituoso e que tenta compensar todos os fracassos pessoais em uma carreira acadêmica. Carreira essa que mesmo segundo ele, não tem absolutamente nada de extraordinária. Ou seja, François é um grande babaca, e ele sabe disso, não procura esconder do leitor.

Esse histórico de sua vida acaba e se mescla ao presente de maneira muito orgânica. Nesse presente, François mantém uma relação basicamente sexual com Myriam, uma menina judia de 22 anos, metade da sua idade. Ela era sua aluna. Além disso, continua descrevendo seus companheiros de profissão. Sempre falando de suas teses de doutoramento e demonstrando desprezo, ou diminuindo-os. Em geral, a maneira que o autor aborda o universo acadêmico é com profunda ironia e desprezo. Contudo, em alguns muitos momentos, é bem condizente com a realidade.

Mudança política
Em seguida, no segundo terço do livro entra em cena a questão que as sinopses apontam como ponto central: a islamização política e cultural européia. Misturando personagens reais da política francesa e européia com elementos ficcionais, Michel Houellebecq cria uma eleição onde um partido islâmico consegue formar alianças e chegar ao poder. Ao mesmo tempo extremistas de direita, conservadores em geral, temem essa chegada e ensaiam uma guerra civil. No final acaba não passando de algumas confusões pontuais abafadas pela imprensa. Sem muita resistência e praticamente nenhuma violência a França passa a incorporar a cultura islâmica, à começar pelas Universidades.

Para François o primeiro impacto foi sua jovem namorada. Ela fugiu para Israel com a família antes mesmo das eleições acontecerem e o deixou sem um “refúgio feminino”. Refúgio esse que ele buscou saciar com prostitutas (que o governo muçulmano não interferiu na existência). Depois disso foi aposentado com uma confortável aposentadoria, e ficou com tempo o bastante para sentir-se inútil e deprimido.

Polêmicas
Houellebecq foi acusado de ser islamofóbico, e também foi acusado de ser conivente com “terrorismo” por conta desse livro. O ponto é que independente do que pensa Houellebecq, Submissão expõe o medo do cidadão médio francês, e talvez europeu. O cidadão medíocre não está muito preocupado com os acontecimentos políticos ou históricos, é racista, é preconceituoso. Ele está mais preocupado com a manutenção de seus privilégios. O cidadão médio francês é François. Que tinha como maior preocupação a falta de corpos femininosexpostos nas ruas e na universidade. Situação que fazia seu apetite sexual diminuir.

Declínio do Império
É importante aqui esclarecer algumas coisas. A França é um país que está inserido em um contexto democrático bem estabelecido e em uma tradição “das luzes”. Além de ser um país imperialista – mesmo que não haja muito esforço de se lembrar esse fato por parte da população, até mesmo por parte do autor, que chega a dizer nem se lembrar “dessa questão” em entrevista (abaixo). É uma situação que difere bastante do Brasil, por exemplo, país que não tem nem 30 anos de experiência democrática. Essa democracia européia, assim como em muitas partes do mundo, se vê em um momento de crise. Boa parte da população não se sente mais representada por esse sistema, e isso é expresso de muitas formas. Algumas estão ilustradas no romance.

Fonte: https://viventeandante.com/submissao-quem-tem-medo-de-michel-houellebecq-ou-quem-tem-medo-do-isla/amp/

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